O bispo da terra e do ar

Mas quero ir além da entrevista com Dom Tomás, como fui além da que fiz com Pedro. Num país que nega seu passado, destrói seu presente e desesperança o futuro, acredito, piamente, que registrar trajetórias como a dos bispos citados é muito mais do que uma atividade profissional. É o pedaço que me cabe na revolução.

Porque a memória é revolucionária. Porque "o Juquinha precisa saber". Foi o que me respondeu o ex-guerrilheiro Carlos Eugênio Paz quando o entrevistei para o livro sobre a ditadura militar, mesmo para o qual entrevistei Dom Tomás. Carlos Eugênio contava, com brilho nos olhos, sobre as palestras que dava em escolas. Perguntei: “Por que você acha isso tão importante?” E ele disparou: “Porque o Juquinha precisa saber. Como pode o Juquinha não saber quem foi Apolônio de Carvalho? Ou o Almirante Negro? O Juquinha é o meu filho, o meu neto, será o seu filho, o seu neto. É a criança. São os jovens. Eles precisam saber o que aconteceu neste país”.

É exatamente por isso que me tornei biógrafa e escolho personagens que dedicaram a vida a grandes causas, como Dom Tomás Balduíno.

Pretendo lançar o site em 31 de dezembro de 2022, quando Dom Tomás completaria 100 anos, e estimo fazer o livro em um período de 3 anos, menos tempo do que levei para fazer a biografia de Pedro Casaldáliga (5 anos). Imagino que conseguirei fazer em menos tempo pois mergulho na história de Dom Tomás com a experiência de quem já mergulhou na vida e nas causas de um grande companheiro seu, como foi Pedro, e carrego na agenda contatos que certamente me abrirão portas.

No entanto, para que eu possa me dedicar e viabilizar tanto a produção do livro como a criação e manutenção do site, é preciso mais do que experiência e contatos. São necessários recursos financeiros. Por isso, esta campanha existe.

Ao longo de todo o trabalho, serão feitas entrevistas com pessoas que tenham convivido com Dom Tomás e outras que possam dar informações sobre ele; serão visitados locais e cidades que ele frequentava de modo a registrar como era seu modo de vida e as lutas que abraçou; serão coletados documentos e imagens de arquivos públicos ou particulares que possam comprovar suas atividades nas diversas áreas com as quais se envolveu; será também lido tudo o que Dom Tomás escreveu, bem como serão analisadas as entrevistas que concedeu em texto, áudio e vídeo, além de livros, revistas e filmes que de alguma forma o citem.

Todos os que colaborarem com qualquer valor, ainda que escolham colaborar  sem recompensa, receberão, a partir de janeiro de 2022, e-mails periódicos com informações sobre o andamento do projeto, incluindo trechos de vídeos de entrevistas e, ainda, textos jornalísticos, em primeira mão sobre questões ligadas à terra e aos indígenas, e outros assuntos relacionados ao legado de Dom Tomás, como a luta contra a miséria, a fome a carestia.

Vamos juntos?

*Ana Helena Tavares é carioca, nascida no ano das Diretas Já. É jornalista, conselheira efetiva da Associação Brasileira de Imprensa (ABI). Durante mais de cinco anos, entrevistou pessoas que resistiram à ditadura. Seus relatos (alguns reproduzidos nas revistas Carta Capital e Veja, e no jornal Brasil de Fato) estão publicados no livro-reportagem “O problema é ter medo do medo – O que o medo da ditadura tem a dizer à democracia” (Revan). A partir de 2015, mergulhou no livro-reportagem “Um bispo contra todas as cercas – A vida e as causas de Pedro Casaldáliga”, publicado em 2019 pela editora Gramma, em primeira edição, e pela editora Vozes, em segunda edição, contando a história de Dom Pedro Casaldáliga, bispo emérito da Prelazia de São Félix do Araguaia. Este livro já está publicado também em espanhol pela editora Verbo Divino e em catalão pela Claret.